
TAN POCA VIDA
Há algo no instante em que o corpo se abandona ao próprio peso que nunca é só descanso. É quase outra coisa, uma dobra entre entrega e vigília, como se o silêncio se abrisse em duas direções ao mesmo tempo. A luz pousa no rosto, mas o rosto não responde. O gesto das mãos sugere que algo foi dito antes e continua suspenso no ar, ainda procurando forma.
O título ecoa baixo, como uma frase que alguém murmurou e ficou presa no ambiente. Tan poca vida. Parece pouco e parece muito. Parece confissão, parece rastro, parece o que sobra quando a história inteira se dissolve e resta apenas um corpo tentando lembrar de si.
Aqui a abundância é um truque. A pele é cheia, o repouso é amplo, a superfície é generosa. Mas no centro disso tudo existe uma falta que não se resolve. Um vazio que não grita e não se esconde. Um vazio que respira. A pintura se move devagar, quase imóvel. Ela não entrega narrativa, não explica, não oferece pistas. Só mantém a tensão entre dois estados. Corpo entregue, olhar fechado. O que está dentro continua acordado.
É uma cena que não se fecha. Um fragmento que insiste em permanecer aberto. Um gesto que parece menor do que é. Tan poca vida, e ainda assim é nela que tudo se condensa.





































